Léxico de um Roadbook

Léxico, Idiomas e o Dakar

O léxico é o conjunto de símbolos utilizados para descrever tudo o que vais encontrar pelo caminho durante um Roadbook. Desde o tipo de estrada/caminho, às construções por onde passas e a instruções mais específicas (ou abreviaturas).

Simplificando, o Léxico é o idioma do Roadbook. E como todos os idiomas, eles evoluem, mudam com o tempo. Por exemplo, a organização do Dakar todos os anos lança um léxico atualizado. E na prova utilizam esse léxico nos seus Roadbooks.

Como o Dakar é a prova rainha do Cross Country Rally, todos os outros seguem este léxico. Contudo, dado que o Dakar é organizado por franceses, muitas abreviaturas estão em francês. Como a maior parte da população mundial tem maior facilidade em falar inglês, o léxico internacional utiliza inglês. Em espanha é normal encontrar alguns Roadbooks com abreviaturas em espanhol.

Baralhado? Não faz mal. Se vais navegar em Roadbook em Portugal fica a saber que o léxico oficial é o inglês. E é nesse que este guia de foca. Depois fazer a ponte para o francês é fácil.

Este é o léxico utilizado pelo Dakar em 2020, na versão em inglês.

Lexicon utilizado no Dakar 2020

Alguns símbolos já não são utilizados, outros foram atualizados e outros acrescentados. Contudo, esta imagem tem uma boa base para quem está a aprender.

Vamos ver em detalhe algumas das partes que compõem o léxico.

Classes de Roadbook

Em primeiro lugar, é importante diferenciar entre tipos de Roadboos. Existem város, mas os dois principais são:

  • Cross Country – ex: Dakar
  • Auto Rally – ex: WRC

O Auto Rally são roadbooks para rallies de automóvel, muitas vezes em estradas. Um bom exemplo é o WRC.

Cross Country é a classe de Rally que representa percursos longos, tipicamente fora de estrada, pelo deserto e todo o tipo de terreno e veículos. O melhor exemplo de um evento que utiliza este tipo de Roadbook é o Dakar.

Este guia foca-se totalmente em Roadbooks de Cross Country, embora muita da informação aqui possa ser utilizada para Auto Rally.

Dakar 2020

Tipos de Tracks

Nem todo o tipo de caminho é igual. Por vezes é estrada, outras vezes são trilhos (fora de estrada). Podem também ser singletracks ou nem sequer existirem (imagina navegar no meio do deserto – não há caminho).

O tipo de terreno é representado pela grossura, cor e estilo da linha. Linhas brancas representam estradas. Autoestradas são brancas, mais largas e têm uma linha no meio (que representam duas faixas).

Tipicamente a grossura e tipo de linha representam a visibilidade do caminho.

Tipos de tracks diferentes

Além disso, existe uma mudança de piso. Olhando com atenção vê-se que o piso mudou de linha grossa preta, para linha branca. A linha grossa preta representa um trilho. Portanto o piloto vai continuar no mesmo caminho, contudo, o piso mudou de trilho para alcatrão.

Ou seja, linhas pretas representam piso sem alcatrão. Uma linha grossa é um trilho, e uma linha fina é um singletrack. A diferença está em que num trilho é possível dois veículos de 4 rodas cruzarem-sem enquanto que num singletrack tal não é possível.

Nesta nota seguinte o piloto continua no mesmo caminho, mas há uma mudança de piso. Deixa de ser um trilho, e passa a ser um singletrack. A tulipa também inclui uma referência a uma casa, que ajuda o piloto.

Nem sempre a diferença nas linhas é tão óbvia como aqui

Mas nem sempre existe caminho, especialmente em zonas de deserto. Para representar estas situações o Léxico inclui um tipo de caminho diferente, o off-piste. Este é desenhado como uma linha tracejada.

O tracejado indica o caminho, embora este não seja visível.

Neste tipo de piso utiliza-se o rumo (ou CAP) para navegar, para além de outros elementos visuais que a tulipa inclua. No Dakar cada piloto tem a sua técnica. Há pilotos que só olham utilizam o CAP e ignoram tudo o resto.

A maior parte são auto-explicativos

Símbolos

Muito simplesmente, os símbolos representam objetos que estão no percurso. Podem ser árvores, dunas, pontes, ruínas, pneus, postes, animais ou qualquer outra coisa.

É habitual os roadbooks conterem alguns símbolos que não fazem parte do Léxico normal. Por vezes são objetos específicos ao percurso que atravessa.

Os símbolos são auto-explicativos. São exatamente aquilo que representam.

Existem algumas exceções. Símbolos que não são tão óbvios. Mas a maioria é trivial.

“Sair da estrada e seguir em direcção à rulote (rumo 241º), Uma igreja deve ficar à direita.”
Símbolos mais comuns

Abreviaturas

Como o espaço em cada nota é reduzido, algumas palavras são reduzidas a abreviaturas.

Estas abreviaturas transmitem informações importantes ao piloto.

Nota retirada do “Rally Margem Sul”

Na secção de Comentários o piloto vê as letras FAST. Ao contrário do que parece, nada tem a ver com ir depressa (Fast).

Na verdade são duas abreviaturas juntas: FA e ST. O piloto interpreta ambas abreviaturas e percebe que deve seguir as pistas de areia. Como?

Porque FA significa Follow Along, ou em português, “Seguir.” e ST significa Sand Tracks (pistas de areia). As duas abreviaturas juntam-se para dizer “Follow Along Sand Track“, ou “seguir a pista de areia“.

Tudo o que o piloto precisa de fazer para chegar à nota seguinte é seguir a pista de areia que deverá estar à sua vista.

É importante por isso conhecer as principais abreviaturas, ou andar com uma cábula para consulta em caso de dúvida.

Rumo, ou CAP

CAP, CAPc e CAPa

Já sabes que o rumo se chama de CAP mas existem vários tipos de rumos. Por agora, deixamos o CAPc de lado, vamos olhar para o CAP e para o CAPa.

Vamos também tomar atenção para onde está o CAP na nota (está na tulipa ou nos comentários?)

Quando o CAP está na tulipa significa que na distância marcada deves seguir para o rumo que o CAP indica. Mas quando o CAP está nos comentários, só deves seguir para o rumo depois de seguires todas as instruções da tulipa.

O CAPa funciona da mesma forma. Mas ao invés de marcar um rumo exato, marca um rumo médio. No Dakar, com o léxico em francês, em vez de CAPa escrevem MOY – que significa “médio” em francês.

O piloto ao ver um CAPa sabe que desde o ponto onde está até à próxima instrução deve manter esse rumo médio. Pode nem sempre ser possível seguir esse rumo, e o piloto terá de fazer desvios. Mas em média, deve apontar ao rumo estabelecido.

Perigos

Os perigos são representados por pontos de exclamação. Existem três níveis, representados em quantidade de pontos de exclamação.

Os sinais de Perigo podem ser utilizados tanto na Tulipa como nos Comentários.

Perigo 1 – Saída de estrada para trilho, com curva acentuada.

O Perigo 1 representa um perigo sem danos graves para o piloto e facilmente transposto. Neste exemplo o perigo alerta o piloto para uma curva muito apertada à esquerda, com uma mudança de piso de alcatrão para terra batida.

Perigo 2 – mudança de Direcção à esquerda com presença de areia. Nos comentários também temos um Perigo 2, devido à presença de vários (Mx) entroncamentos à esquerda.

Nas situações onde a integridade física do piloto é seriamente ameaçada, o piloto vai encontrar um Perigo 2. A distância da nota estará também sublinhada, como pré-aviso.

Este símbolo utiliza-se em alguns entroncamentos com visibilidade ou zonas técnicas difíceis. Por exemplo, em passagens de ribeiros fundos, zonas de areia inesperadamente difíceis, descidas acentuadas, pedra, etc.

Perigo 3 – o singletrack termina num entroncamento com uma estrada de alcatrão. O piloto deve parar completamente (STOP).

Sempre que existe risco de morte para o piloto, ou quando se juntem vários perigos até sua integridade física, utiliza-se um Perigo 3. O mais elevado.

Toda a nota fica com uma moldura vermelha, a secção de distância fica vermelha e está também presente um WPS – Waypoint Safety. Este WPS vai estar presente em todas as notas que tenham um perigo 3.

É utilizado em cruzamentos e entroncamentos em que seja preciso parar, passagens de nível, descidas e subidas com muita pendente e outras zonas técnicas difíceis com risco alto.

Waypoints

Durante o percurso existem vários tipos de waypoints que podes encontrar. Normalmente são pontos de controlo que a organização dos eventos criou. Existem diferentes tipos.

O WPS, ou Waypoint Safety é o “S” que aparece nas Notas com Perigo 3. Não é um Waypoint de navegação, e por isso vamos ignora-lo por agora.

Waypoints de Navegação

Estes são validados automaticamente por sinal de GPS quando o piloto passa suficientemente perto de cada um deles. Quão perto? Depende do waypoint, e das suas configurações, que são duas:

> Raio de Validação

Distância mínima à qual o piloto deve passar por este waypoint para que seja validado. Se o piloto não passar perto suficiente, o waypoint não conta para a pontuação do piloto na prova.

> Raio de Abertura

Quando o piloto está a uma certa distância do waypoint, o seu localizador GPS vai apresentar uma seta com a direção para o waypoint. Esta seta fica visível até o piloto atingir o waypoint, ou se afastar dele para além desta distância. A esta distância chama-se Raio de Abertura.

Diferentes Tipos de Waypoint

Existem 3 tipos principais de waypoints de navegação.

ÍconeWaypointRaio de AberturaRaio de Validação
WPE – Eclipse3.000m50m
WPM – Masked800m50m
WPC – Hidden50m

Os waypoints E e M podem ajudar com a navegação, já que nas provas organizadas os pilotos levam um aparelho que mostra uma seta que aponta para o Waypoint (e pode mostrar a distância até ele). Mas só mostra a seta e a distância quando o piloto está dentro do Raio de Abertura do Waypoint.

Outras vezes servem apenas para assegurar o piloto de que está a ir pelo caminho correcto. Estes waypoints também mudam a cor de fundo da secção “Distância”.

Exemplos

As notas com Waypoints de Navegação têm uma cor diferente na secção de distância.

WPE – Waypoint Eclipse >> Azul
WPM – Waypoint Masked >> Azul
WPC – Waypoint Hidden >> Amarelo