O que é um Roadbook?
De forma simples e muito clara, um Roadbook é uma forma de navegar um percurso sem recurso a GPS ou mapas.
Por outras palavras, um Roadbook é um conjunto de instruções para levar o piloto desde o ponto de início ao final, sempre pelo percurso que o autor do Roadbook preconizou. A cada instrução chama-se nota.
Estas notas estão escritas de uma maneira que é fácil para o piloto as interpretar rapidamente, utilizando um conjunto de palavras-chaves e símbolos conhecidos. A este conjunto chama-se léxico.
Um piloto que esteja no campeonato nacional de Rally Raid em Portugal vai encontrar no Roadbook da prova os mesmos símbolos que encontraria no campeonato espanhol, por exemplo.
Formato
Historicamente, os Roadbooks são feitos em papel.
Para a navegação em carro, camião ou SSV, os Roadbooks são entregues aos pilotos em forma de caderno, ou livro (daí o seu nome – Roadbook). Os pilotos nestes veículos levam sempre um co-piloto cuja função é a de navegador, sendo de facto o nome dado a estes co-pilotos – navegadores.
Mas nas motas os pilotos estão sozinhos! Não têm um navegador que possa ir virando as páginas do caderno. Então inventou-se um formato específico de Roadbook para as motas: o rolo de papel.
Ao invés de ser impresso em caderno, com páginas, o Roadbook é impresso numa folha contínua, com vários metros de comprimento. Por vezes o Roadbook é tão extenso que é necessário juntar duas ou mais folhas (com fita-cola). Estas folhas são então enroladas, fazendo um rolo.
No cockpit da mota, estes pilotos têm um aparelho específico onde metem o rolo. À medida que o piloto vai andando, vai pressionando um botão com o dedo no guiador da mota. O botão acciona o mecanismo de scroll, e o rolo vai-se desenrolando, deixando à vista parte do seu conteúdo.
Hoje em dia já existem aparelhos de Roadbook digitais, que permitem ao piloto seguir um Roadbook em alguns dos formatos digitais existentes (o mais comum é PDF).
No Dakar já existem categorias que estão a concorrer com Roadbook digital. Contudo, a categoria de Motos ainda se mantém fiel à tradição do rolo de papel – existe sempre redundância em caso de avaria, porque o papel nunca avaria e não precisa de bateria.
Roadbook Vs GPS
Se formos às origens, às primeiras edições do famoso Paris-Dakar (atualmente apenas Dakar), a tecnologia de GPS ainda não estava madura suficiente para ser utilizada. Foi apenas em 2001 que o GPS ficou popularizado para o uso em veículos.
Por outro lado, uma navegação por GPS não permite saber exatamente que tipo de terreno nos espera dos metros seguintes, nem que perigos existem. Esta informação para um piloto é bastante importante.
Se saber que tipo de terreno nos espera é importante, poder manter os olhos no caminho é a principal razão pela qual os Roadbooks são usados em detrimento do GPS. Pode parecer irónico, mas é verdade.
Um piloto a navegar por GPS só consegue saber o caminho a tomar para os próximos metros que vê no ecrã do seu GPS. Se a escala/zoom estiver nos 80 metros, ele saberá apenas o caminho para os próximos 80 metros, no máximo. O piloto tem então que olhar constantemente para o GPS e ver as novas informações.
Um piloto que navegue por Roadbook vai saber que caminho deve tomar por uma distância maior. Caso não haja necessidade de o piloto mudar de direção, o Roadbook apenas dirá que a próxima nota está a X metros de distância. Por vezes está a mais de 1 quilómetro. Isto dá imensa tranquilidade ao piloto, porque ele sabe que até à próxima são pelo 1,23 km (por exemplo). Basta o piloto ir controlando o odómetro, e quando estiver a chegar à distância marcada, ele vai então voltar a olhar para o Roadbook. Até lá, vai completamente focado na pilotagem.
Dakar
Dakar, Rally-du-Moroc, Africa Eco-Race. Estas são apenas algumas das provas icónicas no mundo do Rally Raid com Roadbook, às quais lhes poderíamos juntar o R3, o Mil Dunas ou o Extreme 300 – estas últimas, Ibéricas.
Estas provas, umas mais acessíveis do que outras, requerem o uso de Roadbook para participar nas categorias principais. É com Roadbook que se criam as lendas do Rally Raid.
Lendas como Paulo Gonçalves, Toby Price ou Stéphane Peterhansel.
Vintage
A navegação por Roadbook hoje em dia é quase classificada de vintage, visto que ainda se usam rolos de papel. E a verdade é que existe qualquer coisa de espetacular em conseguir chegar ao final de um Roadbook. É uma sensação de desafio superado e perícia melhorada. Não só o piloto de Roadbook é mais rápido do que o de GPS, como se diverte mais. No final, ainda se sente como se estivesse a conquistar as dunas no deserto do Sahara – e se tiver de reparar um rasgo no pneu com zip-ties, vai ficar bastante contente!